Vi, quinta-feira passada no Coliseu dos Recreios, o espectáculo de Maria Bethânia.
"Dentro do mar tem Rio" compila dois albúns "Pirata" e "Mar de Sophia". A admiração pela água, pelas cachoeiras e pelo interior do Brasil, pela simplicidade das gentes e a beleza dos lugares compõem o primeiro, enquanto o segundo evidencia uma clara homenagem à poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen. Bethânia canta o Mar!
Surge em palco com uma saia vermelha bordada, um colete branco, Bethânia reinveta uma tribo da Amazónia e o colorido das aves do paraíso. Completamente rendido ao fascínio da voz da cantora brasileira, que entre belos poemas mostrava a sua energia vital. Uma energia própria, evidenciada nos pés descalços, na dança e no marcante movimento de afastar a sua longa cabeleira cinza do rosto. Os seus cabelos esvoaçavam e ondulavam ao ritmo da música, em sintonia com a suave brisa que sacudia as nuvens do cenário.
O cenário de nuvens com diferentes tonalidades variantes afigurava-se-nos entre a tempestade no mar e a calmaria de um dia de pesca no rio Amazonas.
A imagem do concerto é sonora, grave mas melódica e de encantamento. Bethânia declama Fernando Pessoa, vestida de branco, imparcial, pura, saudosista mas moderna, actual entre o brilho cintilante da prata do vestido iluminado pela luzes. Álvaro de Campos poderia estar entre os vivos e ter escrito o poema hoje de manhã ao acordar. Desconhecia o poema! Nunca me tinham mostrado. Falha minha!
A plateia rende-se num aplauso. E eu exclamo, Maravilhosa!